Era uma vez uma menina que não sabia fazer amigos. Ela tinha um bom coração e tentava, muitas vezes, se aproximar de alguém que lhe parecesse uma boa amizade. Chegava junto com jeitinho de quem não quer nada, sorria, esperava um movimento ou um gesto que indicasse reciprocidade do outro lado, mas tinha um problema: ela não sabia o que falar, nunca sabia. Ficava calada, os outros, por vezes, retribuíam os sorrisos, mas com o silêncio se afastavam.
Ela tinha um cachorrinho, talvez seu único amigo, mas um dia, ele morreu. Ela chorou e contou a uma dessas pessoas que encontrou. A colega se entristeceu por ela e, naquele dia, elas conversaram por horas sobre o cachorrinho que tinha ido embora e sobre essa relação que temos com nossos bichinhos de estimação.
No outro dia, ela se encontrou com a nova coleguinha, sorriu, ela sorriu de volta e, de novo, ela se viu sem saber o que falar. O silêncio levou embora a sua companhia. Ela voltou pra casa, triste, pensativa, sem saber porque não conseguia fazer amigos. Estava chateada e brigou com sua mãe sem motivo. Saiu de casa e encontrou alguém no parque. Desabafou. Chorou. Disse que tava triste pelo cachorro, porque a mãe brigou com ela e ao ver a reação do outro lado resolveu dizer que tinha sido injustiçada pela sua irmã, mentira, mas achou que isso faria o assunto se alongar mais, talvez. E funcionou. Falaram durante horas sobre animais de estimação, pais, irmãos e ela foi pra casa feliz.
No outro dia, sem saber o que dizer resolveu criar uma história sobre a falta que esse cachorro fazia, sobre a difícil relação que tinha com a mãe e sobre ausência da irmã. A partir daí, alguns, penalizados, se aproximaram. E ela entendeu o que precisava para ter “amigos por perto”. Ela contava e recontava essa história e tantas outras que criava, tanto, que acho que até chegou a acreditar nelas.
Ela cresceu, tinha pessoas que ouviam e se sensibilizaram muitas vezes com suas “histórias”, ela sorria, ouvia histórias novas sobre a vida, sobre o dia-a-dia dos outros, mas nunca, nunca aprendeu a fazer amigos.
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